sábado, 12 de abril de 2014

UPAS sem médico -Uma rotina no Rio de Janeiro

Num grande monitor de TV, no qual se revezavam propagandas institucionais do governo do estado e slogans como “População mais bem cuidada” e “Rio, estado que se preocupa com a saúde da população”, o tempo de espera para atendimento na UPA da Penha revoltava os que esperavam por uma consulta na sala do contêiner, na noite da última quinta-feira: nove horas e 56 minutos. Eram 19h32m quando a auxiliar de escritório Bianca Gonçalves, de 34 anos, enviou a foto que mostrava a longa espera por meio do WhatsApp do EXTRA. Na tarde de ontem, a situação persistia: cinco horas e 52 minutos, chegou a marcar no monitor.


O monitor da UPA da Penha mostra o tempo de espera para atendimento na noite de quinta-feira: 9 horas e 56 minutos
monitor da UPA da Penha mostra o tempo de espera para atendimento na noite de quinta-feira: 9 horas e 56 minutos Foto: Leitora Bianca Gonçalves/via whatsapp

Na quinta-feira, Bianca havia chegado à unidade às 14h57m, levando a mãe, a dona de casa Leila dos Santos Gonçalves, de 57 anos. Nem mesmo a classificação de “urgência”, recebida após a triagem, foi capaz de agilizar o atendimento da paciente, que chegou à UPA queixando-se de dores no peito e no estômago, 20 dias após ter três stents implantados no coração.
— Minha mãe sentiu uma dor muito forte no peito após o almoço. Mais forte do que quando ela enfartou em 2012. Eu a trouxe correndo para cá. Mas já estamos esperando há cerca de cinco horas e meia — disse Bianca.


Pacientes cercam a porta do único médico que fazia atendimentos na noite de quinta-feira, na UPA da Penha
Pacientes cercam a porta do único médico que fazia atendimentos na noite de quinta-feira, na UPA da Penha Foto: leitora bianca gonçalves/via whatsapp

A auxiliar de escritório conta que algumas pessoas desistiram de esperar e foram embora sem atendimento. Uma delas foi sua tia, que havia chegado à UPA da Penha às 11h, com dor de cabeça:
— Ela desistiu e voltou para casa.
Por volta das 20h30m, a sala de espera da unidade estava lotada quando o único médico que fazia atendimentos ameaçou ir embora e teve a porta do consultório bloqueada por pacientes.
— Chegou um policial e o médico saiu para atendê-lo. Algumas pessoas reclamaram, e ele disse que ia embora. Nesse momento, várias pessoas que aguardavam há horas foram para a porta do consultório, dizendo que não deixariam ele sair sem antes atendê-las — contou Bianca.
Leila foi atendida às 21h32m, após seis horas e meia sentada, sentindo dor.


Alexandra Rayssa é amparada pela mãe, Sandra Márcia, na tarde desta sexta-feira, na UPA da Penha
Alexandra Rayssa é amparada pela mãe, Sandra Márcia, na tarde desta sexta-feira, na UPA da Penha Foto: flávia junqueira

Ontem, a espera de Alexandra Rayssa de Almeida Capela, de 16 anos, também durou cerca de seis horas. A menina, que apresentava febre e dor lombar, chorava sentada na cadeira e, após a mobilização de outros pacientes, foi atendida na frente.
— Não aguento mais. Ela chora e eu choro junto. O que mais eu posso fazer? — disse a mãe, a cabeleireira Sandra Márcia de Almeida, de 41 anos.
A coordenação da UPA informou que três médicos faltaram o plantão diurno na quinta-feira, o que provocou demora no atendimento. Em nota, afirmou que todos os pacientes foram acolhidos e submetidos à classificação de risco, com prioridade de atendimento dos casos mais graves. Apesar de pacientes relatarem que apenas um médico fazia atendimento na noite de quinta, a coordenação da UPA afirmou que sete clínicos estavam de plantão. Ontem cinco faziam o plantão diurno.
— Aqui, para ser atendido, o paciente faz plantão de 12 horas junto com o médico — disse o vigilante Jorge Luiz Rocha, de 53 anos.


Jorge Luiz Rocha aguarda resultado de exame na UPA da Penha: “Vou fazer plantão junto com o médico”
Jorge Luiz Rocha aguarda resultado de exame na UPA da Penha: “Vou fazer plantão junto com o médico” Foto: EXTRA / Luiz Roberto Lima

Confira a nota da Secretaria estadual de Saúde na íntegra:
“A coordenação da Unidade de Pronto Atendimento da Penha informa que quinta-feira atuou com equipe incompleta durante o dia, devido a falta de três profissionais escalados para o plantão. A coordenação tentou captar médicos substitutos, porém sem sucesso. Os plantonistas se revezaram entre o atendimento à população, o acompanhamento de saída de pacientes para a realização de exames em outras unidades de saúde e os cuidados com pacientes em observação na sala de cuidados intensivos, o que provocou demora no atendimento. No entanto, todos pacientes que deram entrada foram acolhidos e submetidos à classificação de risco, com prioridade de atendimento dos casos mais graves para o menos graves. Entre 7h e 19h, foram realizados 319 atendimentos de clínica médica.”
“A coordenação da Unidade de Pronto Atendimento da Penha informa que está operando com cinco clínicos nesta sexta-feira e que a unidade não dispõe de atendimento em pediatria. As crianças que necessitam de atendimento pediátrico são encaminhadas para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, que fica em frente à unidade. Nesta sexta-feira, entre 7h e 18h, foram realizados 330 atendimentos. É importante salientar que todos pacientes que chegam na unidade são acolhidos e submetidos à classificação de risco, com prioridade de atendimento dos casos mais graves para o menos graves. O tempo de espera também pode ser influenciado pela alta demanda. Na noite de quinta-feira, sete clínicos estavam de plantão na UPA da Penha, tendo realizado 238 atendimentos entre as 19h de quinta-feira e as 7h de hoje.”
"Sobre o atendimento à paciente Alexandra Rayssa de Almeida Capela, a coordenação da unidade informa que a mesma deu entrada na UPA com relato de desconforto na região lombar e febre. Alexandra foi examinada pelo médico e realizou exames laboratoriais que identificaram infecção urinária. Após ser medicada, recebeu alta."



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